segunda-feira, 24 de março de 2014

A legitimidade de Bruno de Carvalho


Muito se tem dito, escrito e falado na última semana sobre arbitragem. Mais grito menos grito, o eco das palavras do nosso presidente não deixou ninguém indiferente. A "clubite" aguda com que muitos abordam a questão, de forma leviana e ao ritmo dos seus melhores interesses, tem transformado em ruído aquilo que deveria, antes, ser uma oportunidade de discussão e reflexão.
O clássico com o Porto veio confirmar, uma vez mais, o que Bruno Carvalho tanto falou na última semana. Em Portugal os árbitros têm um peso excessivamente decisivo nos resultados e, por inerência, nas classificações. Não estamos a falar de erros pontuais mas sim sistemáticos e de difícil explicação, e que ainda por cima têm o beneplácito das estruturas que dirigem a classe. Depois de vermos em Setúbal o trio do apito fazer um "hat-trick" ou, se preferirem, um poker (considerando, aqui, o penálti sobre Capel), a equipa liderada por Pedro Proença voltou a ter um peso decisivo no clássico, independentemente da superioridade (global) do Sporting em jogo jogado. O mesmo tinha acontecido entre o Sporting e o Nacional, o Belenenses e o Benfica (por duas vezes), o Estoril e o FC Porto, isto se não quisermos entrar na avaliação de grandes penalidades. Poderão, os mais levianos, dizer que no final, entre o deve e o haver, tudo fica mais ou menos na mesma.
Recorde-se que o próprio Bruno de Carvalho apresentou, em primeiro lugar, um pacote de medidas em sede própria, sem que houvesse vontade dos outros clubes, da Liga e da FPF para, sequer, as discutir. E aqui há muita hipocrisia, sobretudo de outros clubes que sempre, alegadamente, se debaterão por um novo sistema mais competente e transparente no futebol português, mas que, neste momento, parecem ter perdido tal interesse. Porque, como defende Vítor Pereira, o futebol português está bem e recomenda-se... conforme se tem visto, em Setúbal e em tantos outros jogos por esse nosso país. O jogo com o FC Porto vem dar ainda mais força a quem, como Bruno Carvalho, defende que os árbitros não devem ter um papel tão decisivo no desfecho de jogos e campeonato, em função da sua incompetência. Mais, essa incompetência não deve ser premiada, devendo haver mais honestidade e transparência nas nomeações e avaliações. É inconcebível, por exemplo, a Liga de Clubes ter aumentado a pontuação de Manuel Mota no Sporting-Nacional, na sequência de recurso apresentado pelos leões, argumentando que Slimani empurrou (para a frente) o defesa nacionalista que caiu... para trás!!! Pior, vimos árbitros a pedirem desculpas via Facebook por erros cometidos (Duarte Gomes, frente ao FC Porto), não tendo o mesmo critério quando o mesmo acontece em outras equipas. É inconcebível o corporativismo de toda uma classe perante um árbitro que se recusou a apitar (na época passada) um jogo do Sporting, não havendo o mesmo critério quando Vieira, Pinto da Costa, entre outros, gritaram com mais veemência.
Perante a passividade de todos os agentes do futebol nacional, só resta aos clubes inconformados gritar para fora deste eixo, mesmo com discursos vazios. Apenas manter o tema na ordem do dia lançando o alerta para as entidades extra-futebol nacional. E disso dá conta Bruno Carvalho mesmo sendo criticado, tal como, um dia, Dias da Cunha o foi por falar "demagogicamente" numa coisa chamada sistema. Quatro anos depois, explodia o Apito Dourado...


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