domingo, 8 de abril de 2012

Entrevista de Onyewu ao oJogo

Fonte: Sporting Visto por Nós
A temporada do Sporting tem tido aspetos muito positivos, mas a campanha na Liga prima claramente pela negativa, dado o quinto lugar na tabela. O que falhou?
Obviamente, a Liga é o mais importante. Não começámos bem a campanha, depois melhorámos muito, mas algures pelo meio a nossa forma caiu. Não há uma razão específica para isso. Agora é importante olhar para os erros cometidos, para os jogos que desperdiçámos e tentarmos ser melhores daqui em diante. É preciso pensar no próximo jogo, nada é mais importante do que isso. Não tenho problemas em admitir que este é um campeonato de aprendizagem; para muitos de nós, é a primeira vez a jogar esta prova. Quando vim para cá, nem sabia o que esperar, mas tive de me adaptar, aprender e melhorar.

Como compara a liga portuguesa às outras cinco ligas europeias [França, Bélgica, Inglaterra, Itália e Holanda] em que já jogou?
Não gosto de comparações, aprecio as coisas por aquilo que elas são. Portugal tem sido muito bom, apesar de só estar cá há oito meses. Estou a desfrutar do meu futebol, e tudo vai correr bem. Estou a adorar o meu tempo no Sporting e quero continuar aqui por muito mais anos.

Acredita que vai conquistar o título de Portugal durante a sua passagem pelo Sporting?
Sim, acredito. Sermos campeões é uma questão de tempo. A minha meta principal é fazer do Sporting campeão nacional antes de deixar Portugal. É a minha meta a cem por cento, e é assim em todas as equipas onde jogo. Ser campeão de um país é o máximo que se pode desejar, o mais gratificante. Ninguém joga para perder, e os títulos são o mais importante. Nos últimos anos, o FC Porto e o Benfica dominaram o futebol português, pois têm muito boas equipas, jogam bom futebol, tal como o Braga, que esta época tem tido uma grande série de jogos. Mas nós estamos a aprender e na próxima época seremos duas vezes mais fortes do que fomos nesta, para sermos capazes de lidar melhor com a pressão de estar em tantas provas ao mesmo tempo.

Mas apercebe-se da frustração dos adeptos pelo facto de o Sporting, nas últimas épocas, não estar ao nível dos principais rivais?
Sei disso. É duro, mas a quem dói mais é aos jogadores. Nós é que temos de nos olhar, olhos nos olhos, após cada mau jogo que fazemos. Nós é que acordamos cedo para subir ao relvado e corremos todos os dias para não desiludir os adeptos e também para não nos desiludirmos a nós mesmos. Pessoalmente, sou o meu maior crítico. Nenhum jornalista ou adepto me vem dizer algo que eu não tenha dito já a mim próprio. Analiso os meus jogos ao segundo, sei quantos passes falhei, quantas bolas perdi. A cada jogo! Temos de usar isso a cada jogo. Não podemos é tentar mudar o que já passou, isso está fora das nossas mãos.

O próximo adversário na Liga chama-se Benfica. O que espera do dérbi?
Não vou jogar, mas se ganharmos, será fantástico para o moral e para a confiança da equipa - para o clube, em geral.

Já se apercebeu de que mesmo que nada decida, este dérbi é sempre importante?
Sim, é o mesmo que acontece nos confrontos entre as duas equipas de Manchester, as duas equipas de Milão ou entre Real Madrid e Barcelona; este jogo é desse tipo. Há uma rivalidade intensa. Antes do jogo na primeira volta, na Luz, fiquei com uma ideia de como era, mas só se sente verdadeiramente dentro de campo. O melhor professor é a experiência, e não interessa o que se ouve. Quando se está lá dentro, tudo muda, é diferente. Durante e depois desse jogo senti exatamente o que sentem os adeptos, o que eles sentem em relação ao Benfica, ao dérbi. Hoje percebo perfeitamente a importância que tem essa rivalidade.

Está de fora, dada a sua lesão, a ver a equipa brilhar na Liga Europa. Como tem vivido tudo isso sem jogar?
Não é fácil, especialmente quando estamos habituados a jogar sempre, pois queria estar lá dentro e partilhar o momento com todos, mas sinto muito orgulho neles, especialmente por esta campanha na Liga Europa. Não podia ficar mais feliz pelos meus companheiros. Estamos a ganhar nas provas internas, e estou feliz pelos nossos progressos. Somos uma equipa nova, de jogadores que nunca jogaram juntos, e fomos muito criticados ao longo da época, mas estamos na final da Taça e estamos a ir longe na Liga Europa, na qual superámos boas equipas. Estamos bem, mas podemos crescer e ser uma equipa melhor. Quando vou a restaurantes no centro de Lisboa, há sempre um adepto que vem ter comigo a dizer que acredita em nós e que quer títulos. Esta fé numa equipa nova é fenomenal; é a prova de que veem nela qualidade e vontade de vencer.

A campanha na Liga Europa centra atenções. Está surpreendido com a caminhada do Sporting?
Porque havia de estar surpreendido? Sempre disse que a minha meta é ganhar todas as provas. Quando há 11 contra 11, tudo é igual. O futebol, mais do que qualquer outro desporto, prova isso. Não estou surpreendido, só feliz. Temos uma grande equipa, cheia de internacionais. Espero que mantenhamos este nível. Algumas pessoas não sentiam que pudéssemos chegar aqui. Essa foi, e é, a força que nos move. Se quiserem continuar a duvidar de nós, tudo bem. Isso motiva-nos e ajuda-nos a superar-nos.

Após oito meses no clube, o que veio encontrar no Sporting correspondeu às suas expectativas?
Uma das razões pelas quais assinei foi a minha crença no projeto. Falo das pessoas novas que vieram, nos novos dirigentes. Eu acreditava na visão que tinham e continuo a acreditar. Acho que se olharmos para o global da nossa época, as pessoas não podem deixar de se sentir atraídas pela nossa magia, apesar de certos resultados e de ficarmos atrás de FC Porto e Benfica na Liga. Temos de ver mais além. Este ano é cedo para sermos campeões; ninguém pode é dizer que não temos qualidade para lá chegar. A nossa qualidade é fenomenal e somos uma equipa jovem. Só podemos melhorar. Se continuarmos a trabalhar bem e a ser humildes como até aqui, com os jogadores a perceberem o que têm de fazer, o céu é o limite para nós.

Como vive o ambiente de Alvalade?
Há anos que o Sporting não ganha um grande título, mas os adeptos continuam a apoiar. Não é comum noutros países. Não vou dizer nomes, mas há alguns em que, quando não se ganha, os adeptos se revoltam e querem trocar toda a gente. Gratificante no Sporting é que os adeptos acreditam nos jogadores e, além disso, não se esquecem do bem que fizemos pelo clube. Eles são o tipo de adeptos para os quais eu quero jogar: entendem de futebol, percebem as condições e os momentos bons e maus. Gosto muito disso.

Como lida com a sua imagem de jogador forte, duro?
Muito bem. Toda a gente me tem aceite, até me chamam Capitão América...

Não gosta?
Adoro, é sinal da confiança que têm em mim. É excecional, não me podia sentir mais confortável. Quando me perguntam como me sinto aqui, digo que já não me quero ir embora [risos]. Adoro este país, o Sporting. Todos têm feito tudo para eu me sentir confortável, e tento compensar com futebol. As pessoas apreciam o trabalho honesto.

Pela sua personalidade, pela forma como se impôs, tem alguma influência na equipa?
Acho que sim. Sou dos mais velhos, joguei em várias ligas, ganhei títulos e joguei dois Mundiais. A minha experiência significa algo. Até pela minha posição, os meus colegas olham para mim como olham para Polga...

Depreende-se que gosta de jogar com ele...
Muito! É boa pessoa e bom jogador. Criámos uma boa química a jogar. E eu preciso mesmo de ter um papel de liderança, baseado na minha carreira, na minha idade relativamente ao resto da equipa, na minha posição. É a exigência que vem com o que construí no futebol.

No futebol português, vê o seu porte físico como uma vantagem?
Muitos pensavam que eu teria dificuldades em jogar aqui por causa do meu estilo. Estou muito confortável cá. É uma boa liga, com potencial, com jogadores de qualidade, joguei por esse mundo contra internacionais portugueses que saíram daqui. O campeonato português é fantástico e é subvalorizado.

Como lida com as derrotas? É daqueles jogadores que simplesmente nem falam com ninguém? Como é?
Ninguém gosta de perder, mas é importante não pensar demasiado na derrota. Assim que o apito final soa, não podemos voltar a jogar aquele jogo. Erros cometidos naquele jogo são para não repetir. Vivo isso assim. Nunca fiz um jogo perfeito. É importante que psicologicamente não percamos tempo a dar pancada em nós mesmos. É preciso manter o foco e seguir em frente. No jogo em que marquei dois golos ao Beira-Mar, vi um cartão amarelo logo no primeiro minuto de jogo, porque deixei um adversário fugir. Para jogar 90' com um amarelo, é importante manter o foco.

Sá Pinto foi seu colega em Liège. Como foi o reencontro?
Sá Pinto é um grande homem, um grande homem... Continua igual a si mesmo.

Na altura tinham alguma relação especial?
Ele era dos mais velhos e dava conselhos aos mais novos, pois jogou a alto nível. O que ele mais dá ao futebol, seja a jogar ou a treinar, é a paixão; sabemos sempre o que ele sente, não esconde nada. Não quer que as outras pessoas fiquem a pensar no que ele poderá estar a sentir. Quer que elas saibam mesmo o que ele sente, quando sente e quanto o sente. Respeito isso. Algumas pessoas gostam de esconder o jogo, mas ele dá tudo o que tem. Estou seguro de que daria a perna direita para evitar a minha lesão - tenho a certeza disso. É o tipo de pessoa que ele é.

Entrou mais no coração dos jogadores do que Domingos?
Não quero falar de Domingos... É uma infelicidade ele já não estar cá, mas é importante para nós pensar no que temos, em quem temos agora connosco. São dois treinadores diferentes, duas pessoas diferentes, da mesma forma que eu sou diferente de Polga ou Carriço.

Já que falou da lesão, como se sente?
Muito bem. Felizmente tive um grande médico a operar, e a reabilitação com o fisioterapeuta tem corrido excecionalmente bem. Estou a progredir e a dar os passos finais, que são os mais perigosos. É quando já podemos fazer tudo, mas temos de nos controlar, medir bem o ritmo e ter cuidado para voltar a cem por cento. A lesão que sofri [entorse no joelho direito, fraturando o menisco externo e com rotura total do ligamento lateral interno] podia acontecer a qualquer um. Caiu um jogador em cima do meu joelho, mas estou grato por o problema não ser tão sério a ponto de me deixar fora durante muitos meses.

Sentiu que era grave logo na altura do impacto?
Quando aconteceu, não. Senti dor, mas tomei-a pelo toque no joelho. Se virem a repetição, voltei ao campo. Pensei que se continuasse a correr, ficaria bem, mas vi que o joelho não estava estável; algo estava mal. Pedi à equipa médica que me dissesse o que pensava para não ter dúvidas. E o médico disse que podiam ser os ligamentos - mas não foi o cruzado, felizmente.

Quem o impressionou mais quando chegou ao Sporting?
Izmailov e Jeffren. Tecnicamente, o Marat é dos melhores jogadores que vi em toda a minha carreira. O toque de bola que ele tem... Ele vive, come e respira a bola; conhece-a tão bem como conhece a sua esposa [risos]. É difícil de explicar... Há coisas que o vemos fazer com a bola que lhe são fáceis, e nós perguntamo-nos como é que ele as faz. Gosto também de Jeffren pela sua explosão; não há muitos como ele.

Está a falar de jogadores que também têm sofrido muito por razões físicas. Mais recentemente, como viu aquela exibição, com dois golos, de Jeffren contra o Guimarães?
Todos estão com ele. Sabemos das dificuldades que tem sentido não só nesta época como noutras. Vê-lo a jogar mais, a ajudar a equipa e a fazer golos, faz-me sorrir; vê-lo feliz é muito importante.

E quais são os companheiros com que mantém uma relação mais forte?
Por causa da maior facilidade de comunicação, são Van Wolfswinkel e Schaars, que falam inglês quase como eu. Temos uma boa relação. Gosto dos brasileiros, também, daquele jeito descontraído. É assim também que eu vivo. Mas dou-me bem com todos. Se algum companheiro me convidar para jantar logo à noite, estou lá! Sem problema. Não faço seleções dentro do grupo, mas sim, falo mais com o Ricky e com o Stijn.

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