terça-feira, 1 de março de 2011

Manuel Moura dos Santos: Entrevista ao Jornal 'Sporting'


JORNAL ‘SPORTING’ – Tem ideia de quando e como nasceu o seu sportinguismo?
MANUEL MOURA DOS SANTOS – Foi quase que por osmose. O meu avô e o meu pai eram sportinguistas e eu sou sportinguista, bem como toda a minha família. O Sporting está no nosso ADN. Os meus filhos são todos sportinguistas. Aqui é tudo verde.


Recorda-se do primeiro jogo do Sporting que viu?


Na televisão, foi uma final da Taça de Portugal, entre o Sporting e o Benfica, em que ganhámos por 2-1, ou 3-1, já não me recordo. Nélson e Chico Faria marcaram nesse jogo e o Eusébio ainda jogava. Ao vivo, o primeiro jogo que vi foi em Luanda, quando estava lá a viver. O Sporting foi a Angola, talvez em 1970, e fui assistir a um jogo ao vivo.


Esse jogo, por ter sido o primeiro e por estar a viver fora de Portugal, teve um sabor especial?


Teve. Ir ao futebol era uma aventura, porque era miúdo e havia muita confusão.


Quais são os seus ídolos do Sporting?


Não consigo pôr isso nesses termos. Um dos jogadores que mais me marcou foi o Yazalde. Depois, houve outros que não vi jogar, mas o meu pai tinha as revistas «Stadium» e recordo-me de as ler e de admirar nomes como Azevedo, Canário, Peyroteo (conheci-o em Luanda), Jesus Correia, Travassos, Vasques e Albano. Recordo-me dessa época pelos relatos que li na «Stadium». Tinha uma admiração especial pelo Peyroteo. Já mais adulto, os jogadores que me encantaram foram Keita, Balakov, Damas, Laranjeira e Fraguito, entre muitos outros.


Então, quando teve oportunidade de conhecer Peyroteo, foi para si um momento especial.


Sim, embora o tenha conhecido numa fase debilitada da sua vida.


Uma dupla de sucesso no Sporting?


Sem qualquer dúvida, Manuel Fernandes e Jordão. Aliás, tenho muita pena que Manuel Fernandes não faça parte activa da família sportinguista. Sou um grande admirador dele, hoje há pouco amor à camisola e sendo ele um símbolo do Sporting, tenho pena de que não seja aproveitado.


O que é que o move pelo Sporting?


Tenho uma cultura sportinguista em que me recuso a apupar a equipa, a assobiar os jogadores e treinadores, não digo mal da Direcção e não insulto dirigentes. Não temos todos a mesma cultura e a mesma forma de estar. Quem está de fora, crítica com facilidade e tem soluções para tudo, mas espero que o Sporting nunca mais caia em soluções populistas. A última solução populista no Sporting ia acabando com o Clube. Não tenho nada contra o presidente Jorge Gonçalves, que fez o que pôde, mas o Sporting ficou numa situação dramática. Percebo a revolta dos sócios quando não ganham, porque pagam e contribuem para a vida do Clube, mas uma coisa é certa: o confronto e o insulto não é caminho para coisa nenhuma. Normalmente, aqueles que nas Assembleias Gerais mais insultam e mais apupam, não têm soluções para nada. Espero que o Sporting não caia nesse tipo de caminho. Se se repetisse hoje o que se repetiu naquele tempo, as consequências seriam dramáticas e duvido de que o Sporting sobrevivesse.
‘Tenho muita honra em ser sportinguista’


Em que é que se traduz o seu amor ao Sporting?


Traduz-se no facto de ter um irmão que faleceu há sete anos e que, desde então, continua sócio a título póstumo. O meu irmão é sócio a título póstumo, pago o lugar dele em Alvalade e ainda nem o novo cartão de sócio dele recebi. Sou daqueles sócios que têm quatro Lugares de Leão em Alvalade, pago os meus lugares com muito prazer e muita honra e tenho muita honra em
ser sportinguista. Gosto de ser sportinguista, ser sportinguista é ser diferente.


‘Torço para que o Benfica perca sempre’


O seu antibenfiquismo fica onde?


Sou antibenfiquista no sentido de querer que o Benfica perca sempre. Mas, isso não significa que tenha falta de «fair-play». Uma coisa não está relacionada com outra, até porque nunca me chateei com nenhum dos muitos amigos benfiquistas que tenho. Os meus amigos e a família estão acima disso tudo. Quero que eles percam sempre, mas se merecerem ganhar, sou o primeiro a reconhecê-lo. Mas, torço para que o Benfica perca sempre.


‘Recuperar o meu antigo número de associado é um sonho’


Tem quantos anos de sócio?


Pensei em recuperar o meu número inicial que remonta a 1979, mas isso custava-me uns milhares de euros. Neste momento, tenho perto de 15 anos de associado do Sporting. Recuperar o meu antigo número de associado e a antiguidade como sócio é um sonho.


‘Enervo-me quando vejo jogar para trás e para o lado’


Enerva-se muito a ver os jogos do Sporting, ao vivo?


Enervo-me quando vejo jogar para trás e para o lado. Não gosto desse estilo de futebol. As equipas têm de correr riscos e prefiro ver o Sporting perder em casa e jogar para ganhar do que a jogar para o lado e para trás, sem capacidade de arriscar. Aí os sócios e adeptos têm um papel importantíssimo. Em Portugal, não existe a cultura de apoiarmos nos maus momentos. Quando as coisas começam a correr mal, em vez de se apoiar e incentivar os jogadores, faz-se o contrário. Sente-se que quando o ambiente nas bancadas é adverso, os jogadores não arriscam. Recordo-me dos últimos jogos de Paulo Bento como treinador, via-se que os jogadores estavam a jogar condicionados, com receio de errarem e de serem apupados. Sou um fã do Paulo Bento e acho que foi um erro terrível ter saído, mas, de facto, aquilo não era nada. Quando se vai ao Estádio José Alvalade e se assobia a equipa do Sporting está-se a beneficiar o adversário. Os que sistematicamente apupam a equipa estão a prestar um grande serviço ao Benfica. Estão a enfraquecer o Sporting e a fortalecer os adversários. Quando estou na bancada, posso não gostar daquilo que estou a ver, dou gritos para dentro de campo, mando jogar para a frente, mas sou incapaz de apupar a minha equipa. Assobiar a equipa, jamais. As pessoas deviam ir a Alvalade com o espírito de puxar pela equipa, mesmo quando as coisas estão a correr mal.


“Desconfio daqueles que aparecem de peito aberto a oferecerem-se para irem para o Sporting. São aventureiros que querem usar o Sporting e não servi-lo. Desconfio muito dessa gente.”


Onze de sempre


Damas, Artur, Luisinho, Venâncio, Mário Jorge, Fraguito, Balakov, Figo, António Oliveira, Manuel Fernandes e Jordão.


Algumas frases


‘As escutas são ilegais, mas estão lá e ouvem-se’


“Os sócios deviam estar todos de mãos dadas com o Conselho Directivo. O Sporting atravessa momentos difíceis e é importante lutarmos com as mesmas armas. O Sporting não aparece envolvido em «apitos dourados» e isso quer dizer que não meteu a pata, mas também que não papou. As escutas são ilegais, mas estão lá e ouvem-se.”


‘Sportinguista que se preze não devia comprar «A Bola»’


“Uma das coisas que me irrita imenso é o anti-sportinguismo da maioria dos comentadores de televisão portugueses. É notável. Não leio nem compro o jornal «A Bola», que é o órgão oficial do Benfica e tenho pena de que não tenham vergonha na cara e a hombridade de, no seu estatuto editorial, declararem: nós apoiamos o Benfica. Mas, nem sequer têm coragem de o fazer e dizem que são neutros e isentos. Isso não é verdade. O Sporting nisso é o mais prejudicado. Sportinguista que se preze, não devia comprar «A Bola». Os benfiquistas que façam sobreviver o seu jornal.’


Isto é SPORTINGUISMO !

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